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Não se Preocupe, Estou Bem! / Je vais bien, ne t’en fais pas

agosto 21, 2010

Drama de Philippe Lioret, França, 2006


Angustiante..melancólico..depressivo. É incrível como a necessidade de significação em algumas circunstâncias pode superar até mesmo a motivação das necessidades fisiológicas como dormir ou se alimentar. Por exemplo uma mãe que tem seu filho desaparecido e não consegue fazer mais nada até entender o que sucedeu, até dar uma explicação, significar tal acontecimento.

“Não se Preocupe, Estou Bem!” conta a história da jovem Lili, uma doce e meiga personagem de 19 anos interpretada pela delicada Melanie Laurent (Bastardos Inglórios). Após uma viagem de um mês em Barcelona, retorna pra sua cidade na França onde vive com sua família de classe média. É surpreendida com a notícia de que seu amado irmão gêmeo Loïc teve um desentendimento com seu pai e desapareceu sem deixar notícias. Preocupada, Lili imediatamente arrisca uma ligação, e sem êxito, começa então a questionar sua família para entender a causa desta incoerente fuga repentina, obtendo apenas respostas curtas e líquidas. Insiste nos telefonemas, mas se depara sempre com a secretária eletrônica, evento inédito na relação dos irmãos.

Apesar do desentendimento com o Pai, a falta de contato entre o irmão e Lili não faz sentido. Após alguns dias a jovem não consegue mais se concentrar em nada a não ser em tentar entender o que está acontecendo. Nenhum sinal de vida, caixa de mensagens lotada, falta de explicação e uma crescente neurose obsessiva começa a se instalar no aparelho psicológico da moça, se acentuando a cada cena do filme. Sua família apática, inerte em relação ao sumiço do irmão precipita um angustiante surto desesperado, como um close na dor aguda que fere agressivamente a protagonista. Dias depois, visivelmente pálida e abatida,  Lili sofre um desmaio repentino em sua sala de aula devido à ausência de alimentação que avança para seu oitavo dia. Em profundo estado de depressão, sem notícias do irmão, sem saber o que pensar nem sentir, pálida e atônita como um quadro de Lautrec, Lili é internada em um hospital psiquiático e caminha por uma deprimente narrativa, carregada de densas lágrimas tristes e confusas em busca de qualquer resposta, qualquer sinal de vida, qualquer evento que lhe retome a esperança de entender o que de fato está acontecendo.

As excelentes interpretações de Laurent lhe renderam o César de atriz revelação, uma das várias premiações conquistadas pela obra de arte. Possui profundo roteiro e ótima trilha sonora com direito a um tema viciante, composto pelo irmão desaparecido e dedicado à protagonista. “Não se Preocupe, Estou Bem!” explora intensamente a angústia dentro do universo da existência humana, focado no sofrimento da personagem principal. Após assistir e reassistir o filme, Philipe Lioret assume o lugar habitado pelos meus diretores franceses preferidos. Recomendo altamente àqueles que se interessam por filmes sem sorrisos exagerados, sem euforias e sem superficialidade. Em três palavras: angustiante, melancólico, depressivo. Em uma: brilhante!

Daniel Silva, ago/10

Não se Preocupe, Estou Bem! / Je vais bien, ne t’en fais pas
Drama de Philippe Lioret, França, 2006
Roteiro e adaptação Philippe Lioret e Olivier Adam
Filmado em Reims, Marne, França
Cor, 100 min
Classificação: 5 estrelas


Um comentário

  1. Sem sombra de dúvidas o filme é riquíssimo no que diz respeito às questões psicológicas: a fraqueza física perante a força psicológica, os laços familiares, a relação entre irmãos gêmeos… Enfim, um filme que poderia tranquilamente ir para o divã e lá ficar por algumas horas… Mas não me aprofundarei nesse aspecto, tanto porque poderia levar ao ponto da especulação pura, como pelo fato de que não me sinto a vontade em discutir esse tópico perante alguém que é formado em psicologia.
    Creio que quando algo é excelente em um filme nós o percebemos, isto é, se algo é realmente bom saímos de dentro do filme para repararmos que aquilo é tecnicamente louvável. Eu não saberia falar nada a respeito da trilha sonora, deixaria isso para o Sihan Felix ou para você, Daniel. A única coisa que digo, como leiga, é que a música composta por Loïc realmente gruda nos ouvidos. O que me chamou a atenção, acima dos demais componentes do filme, foi a fotografia: divina, como parece ser um costume da cinematografia francesa.
    Um filme muito bom, uma ótima recomendação. Gosto de filmes simples que conseguem prender o espectador sem cair em monotonia, melodrama ou previsibilidades manjadas.

    Por fim, gostaria de parabenizar o Daniel pelo post: muito raro eu ler sobre um filme, não encontrar spoilers ou aquela linguagem quase épica e ficar com vontade de vê-lo.

    Agora, bastante ansiosa por Azul Escuro Quase Preto.



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